domingo, 21 de agosto de 2011

Sociologia


A Atualidade dos Dados

            Outra observação pertinente é que muitas pessoas, por ignorarem a natureza dos fatos aqui apresentados, sempre tendem a pensar que nos últimos anos as coisas podem ter mudado muito em termos da consciência social da população. Não raro dizem que como tudo tem mudado tão rapidamente hoje em dia, ou então, que como ocorreu tal ou qual evento importante, ou ainda que como o país tem se tornado cada vez mais urbano e industrializado, e que, em vista destas razões, informações de dez anos atrás não merecem muito crédito.
            Ora, os números sobre a realidade da consciência sócio-política da população de um país como os EUA já deveriam ser suficientes para nos mostrar que estas realidades ideacionais não mudam senão em escala relativamente limitada, e que mesmo estas mudanças limitadas ocorrem lentamente. Isto porque
(p. 48)
o patamar de riqueza, urbanização e industrialização alcançados pelos EUA trinta anos atrás, o Brasil como um todo somente alcançará sabe Deus daqui a quantas décadas.
            Uma simples projeção pode nos auxiliar a visualizar melhor esta questão. Se projetarmos um crescimento econômico nacional bem razoável de 4 % ao ano, com um crescimento populacional bem modesto para os nossos padrões de 1,5 % ao ano, teremos um incremento real de riqueza média per capita/ano próximo dos 2,5 %. Ou seja, levaríamos mais de 80 anos para sair dos cerca de 2.000 dólares de renda per capita/ano do Brasil de nossos dias, para alcançarmos os 15.000 dólares per capita/ano que os EUA atingiram décadas atrás.
            Mesmo assim, talvez seja oportuno apresentarmos alguns dados bem recentes e de outras fontes que mostram como estas coisas, feliz ou infelizmente, não mudam quase nada em questão de poucos anos. Vejamos os números de uma pesquisa da DataFolha, que entrevistou 5.260 pessoas em dez capitais brasileiras, em outubro de 1987, publicada na Folha de São Paulo, em 1/11/1987. A pergunta era:
            – “Você sabe qual foi o primeiro país a fazer uma revolução socialista?”

Respostas
Percentuais
Rússia/URSS
24 %
Outros países errados
9 %
Não sabe/não lembra
67 %
Total
100 %

            Isto é, em dez capitais, apenas 24 % é que sabiam a resposta correta para esta questão. Pode-se argumentar que se trata de uma questão um tanto sofisticada, e que mede muito pouca coisa. Mesmo assim, ela nos permite perceber claramente (ao compararmos este coeficiente de acerto com os cerca de 30 %, no Rio Grande do Sul, que em 1986 sabiam o que era uma Constituinte; ou com os 39 %, em Porto Alegre, que em 1982 sabiam o significado de esquerda/direita em política) que todos estes números repetem um desenho muito constante, e que não se tratam de números fantasiosos ou pinçados aleatoriamente, mas sim de números que revelam uma severa realidade, sobre a qual muito poucas pessoas se dão ao trabalho de ponderar seriamente.
            Vale a pena adicionar um outro quadro mais recente ainda, resultado de
(p. 49)
uma pesquisa do IBOPE, que entrevistou 2.000 pessoas, em maio de 93. Esse quadro foi publicado na revista “Veja” de 2/6/1993, com as respostas para a pergunta:
            – “O(a) Sr.(a) lembra do nome do candidato e do partido em que votou para deputado federal nas últimas eleições (final de 1989)?

Respostas
Percentuais
Lembra candidato e partido
12 %
Votou só na legenda
14 %
Lembra só do candidato
8 %
Votou em branco/nulo
17 %
Não lembra em quem votou p/ dep. fed.
49 %
Total
100 %

            Estes não são números de uma década atrás, são números de poucos meses atrás! [Nota: O texto para publicação foi concluído em dezembro de 1993.] Metade da população não lembra pura e simplesmente em que candidato ou partido votou naquela que é a eleição mais importante da nação.
            Da Câmara dos Deputados dependem todas as grandes leis do país, ou todas as principais decisões legislativas, ou mesmo, como no caso recente, o impedimento do presidente, o chefe máximo do poder executivo, além de tantos outros encargos da maior responsabilidade e importância para o país. Pois bem, com tudo isto em jogo, apenas 12 % da população lembrava tanto do candidato quanto do partido em que votou para deputado federal nas últimas eleições.
            Se somarmos os 49 % que declararam não lembrar, com os 17 % que votaram em branco ou anularam o voto, e mais os 8 % que só lembram do candidato e, portanto, têm um nível de informação tão baixo que nem sequer sabem a que partido pertencia o candidato em quem votaram, chegaremos a 74 %! Sem falar dos que votaram apenas em uma legenda partidária. Isto em maio de 1993. Dificilmente poderia haver corroboração melhor do que esta a respeito da validade e atualidade dos dados gerais aqui apresentados.
            Tendo apresentado este panorama acerca da unidade inerente à espécie humana, bem como acerca das diferenças que caracterizam a consciência política da população, podemos agora partir para a etapa seguinte de nossa argumentação. Nos próximos capítulos contracenaremos este panorama com as premissas das correntes de pensamento dominantes na atualidade, bem como com
(p. 50)
os modelos de organização política derivados destas correntes neste final do século XX.
            Daremos mais ênfase à crítica do modelo derivado do Liberalismo – a democracia liberal – pois este é aquele mundialmente dominante em nossos dias, além de ser o modelo que hoje está organizando a vida política brasileira. Procuraremos evidenciar que os grandes problemas enfrentados pela humanidade estão, de fato, relacionados com os equívocos inerentes às premissas das correntes de pensamento dominantes (Liberalismo e Marxismo) e à conseqüente incompetência de seus modelos de organização política

Nenhum comentário:

Postar um comentário