PRIMEIRA, SEGUNDA E TERCEIRA SÉRIES - 2011
DICIONÁRIO DE SOCIOLOGIA
Prof.º António Vasconcelos (org.)
A
ACÇÃO SOCIAL || ACOMODAÇÃO || ACULTURAÇÃO || ADAPTAÇÃO || AGREGADOS || AGRUPAMENTOS SOCIAIS || ALIENAÇÃO || ANIMISMO || ANOMIA || ANTINOMIA || ANTROPOMORFISMO || ÁREAS CULTURAIS || ASSIMILAÇÃO || ASSOCIAÇÕES || ATITUDE || AUTORIDADE
AÇÃO SOCIAL. De forma ampla, pode ser conceituada como todo esforço organizado, visando alterar as instituições estabelecidas. De forma particular, é conceituada pelos autores que utilizam a abordagem da ação na análise sociológica da sociedade, sendo que os principais representantes são Max Weber e Talcott Parsons. Para Weber, a ação social seria a conduta humana, pública ou não, a que o agente atribui significado subjetivo; portanto, é uma espécie de conduta que envolve significado para o próprio agente. Por sua vez, Parsons tem como ponto de partida a natureza da própria ação: toda a ação é dirigida para a consecução de objetivos. Um indivíduo (ator), esforçando-se por atingir determinado objetivo, tem de possuir algumas ideias e informações sobre os "objetos" que são relevantes para a sua consecução, além de ter alguns sentimentos a respeito deles, no que concerne às suas necessidades; e, finalmente, tem de fazer escolhas. Outro aspecto é a necessidade de possuir certos padrões de avaliação e seleção. Todos esses elementos ou aspectos de motivação e avaliação podem tornar-se sociais por intermédio do processo de interação (veja INTERACÇÂO). Assim, a ação social é vista por Parsons como comportamento que envolve orientação de valor e como conduta padronizada por normas culturais ou códigos sociais (veja CÓDIGOS).
ACOMODAÇÃO. É um processo social com o objetivo de diminuir o conflito entre indivíduos ou grupos, reduzindo o conflito ou mesmo encontrando um novo modus vivendi (veja MODUS VIVENDI). É um ajustamento formal e externo, aparecendo apenas nos aspectos externos do comportamento, sendo pequena ou nula a mudança interna, relativa a valores, atividades e significados.
ACULTURAÇÃO. Processo pelo qual duas ou mais culturas diferentes, entrando em contacto contínuo, originam mudanças importantes em uma delas ou em ambas.
ADAPTAÇÃO. De maneira ampla, significa o ajustamento biológico do ser humano ao ambiente físico em que vive. Pode também ser aplicada à vida em sociedade, que ocasiona o surgimento de certo denominador comum entre os componentes de uma sociedade particular, certo grau de adesão e conformidade às normas estabelecidas, que varia com a margem de liberdade e de autonomia que o meio social permite ao indivíduo.
AGREGADOS. Constituem uma reunião de pessoas frouxamente aglomeradas que, apesar da proximidade física, têm um mínimo de comunicação e de relações sociais. Apresentam as seguintes características: anonimato, não-organização, limitado contacto social, insignificante modificação no comportamento dos componentes, são territoriais e temporários. 0s principais agregados são: manifestações públicas (agregados de pessoas reunidas deliberadamente com determinado objetivo); agregados residenciais (apesar dos seus componentes estarem próximos, mantém-se relativamente estranhos; não há, entre eles, contacto e interação e também não possuem organização); agregados funcionais (constituem uma zona territorial onde os indivíduos têm funções específicas); multidões (agregados pacíficos ou tumultuosos de pessoas ocupando determinado espaço físico).
AGRUPAMENTOS SOCIAIS. Englobam os grupos (veja GRUPOS) e os "quase grupos": agregados (incluindo as multidões), público e massa (veja AGREGADOS, MULTIDÃO, PÚBLICO e MASSA).
ALIENAÇÃO. Processo que deriva de uma ligação essencial à ação, à sua consciência e à situação dos indivíduos, pelo qual se oculta ou se falsifica essa ligação de modo que o processo e os seus produtos apareçam como indiferentes, independentes ou superiores aos homens que são, na verdade, seus criadores. No momento em que a uma pessoa o mundo parece constituído de coisas – independentes umas das outras e não relacionadas – indiferentes à sua consciência, diz-se que esse indivíduo se encontra em estado de alienação. Condições de trabalho, em que as coisas produzidas são separadas do interesse e do alcance de quem as produziu, são consideradas alienantes. Em sentido amplo afirma-se que é alienado o indivíduo que não tem visão – política, econômica, social – da sociedade e do papel que nela desempenha.
ANIMISMO. Consiste na crença de que todas as coisas, animadas ou inanimadas, estão dotadas de almas pessoais que nelas residem; é a crença em seres espirituais, isto é, almas, espíritos e espectros.
ANOMIA. Ausência de normas. Aplica-se tanto à sociedade como a pessoas: significa estado de desorganização social ou pessoal ocasionado pela ausência ou aparente ausência de normas.
ANTINOMIA. Situação em que as normas de um grupo ou sociedade são contraditórias ou opostas entre si.
ANTROPOMORFISMO. É um tipo de pensamento religioso, ou crença, que estende atributos humanos, tanto físicos como psíquicos, à divindade.
ÁREAS CULTURAIS. Áreas geográficas onde há semelhança, em relação aos traços, complexos e padrões de culturais de grupos humanos (veja TRAÇOS, COMPLEXOS e PADRÕES CULTURAIS).
ASSIMILAÇÃO. Processo social em virtude do qual indivíduos e grupos diferentes aceitam e adquirem padrões comportamentais, tradição, sentimentos e atitudes de outra parte. É um ajustamento interno e indício da integração sócio-cultural, ocorrendo principalmente nas populações que reúnem grupos diferentes. Em vez de apenas diminuir, pode terminar com o conflito (veja CONFLITO).
ASSOCIAÇÕES. São organizações sociais cuja característica é ser mais especializada e menos universal do que as instituições (veja INSTITUIÇÕES); em consequência, apresentam, em geral, determinadas adaptações às classes sociais, grupos profissionais, categorias biológicas (veja CATEGORIAS), grupos de interesses, etc.
ATITUDE. Processo da consciência individual que determina a real ou possível atividade do indivíduo no mundo social. Para alguns autores é ainda a tendência de agir da maneira coerente com referência a certo objeto (Thomas).
AUTORIDADE. É dotado de autoridade o indivíduo que exerce um poder legítimo (veja PODER e LEGITIMIDADE).
B
BUROCRACIA. Organização com cargos hierarquizados, delimitados por normas, com área específica de competência e de autoridade, dotados tanto de poder de coerção quanto da limitação desta, onde a obediência é devida ao cargo e não à pessoa que o ocupa; as relações devem ser formais e impessoais, sem apropriação do cargo que, para ser preenchido, exige competência específica; todos os atos administrativos e decisões têm de ser formulados por escrito.
C
CAPITALISMO || CASTA || CATEGORIAS || CIDADE || CIÊNCIA || CIVILIZAÇÂO || CLÃ || CLASSE SOCIAL || CÓDIGOS || COMPETIÇÃO || COMPLEXOS CULTURAIS || COMPORTAMENTO COLECTIVO || COMUNICAÇÃO || COMUNIDADE || COMUNISMO || CONDUTA || CONFLITO || CONFORMIDADE || CONSCIÊNCIA DE CLASSE || CONSCIÊNCIA COLECTIVA || CONSENSO SOCIAL || CONTACTO || CONTROLE SOCIAL || COOPERAÇÃO || COSTUMES || CRENÇA || CRESCIMENTO || CULTURA || CULTURA DE "FOLK" || CULTURA DE MASSA
CAPITALISMO. Sistema em que os meios de produção são de propriedade privada de uma pessoa (ou grupo de pessoas) que investe o capital; o proprietário dos meios de produção (capitalista) contrata o trabalho de terceiros que, portanto, vendem a sua força de trabalho para a produção de bens. Estes depois de vendidos, permitem ao capitalista, não apenas a recuperação do capital investido, mas também a obtenção de um excedente - o lucro. Tanto a compra dos meios e fatores de produção quanto a venda dos produtos, resultantes da atividade empresarial, realizam-se no mercado de oferta e procura de bens e serviços, existente na sociedade capitalista.
CASTA. Um sistema de castas compõe-se de um número muito grande de grupos hereditários, geralmente locais, rigidamente endogâmicos, dispostos numa hierarquia de inferioridade e superioridade; correspondem geralmente a diferenciações profissionais, são impermeáveis a movimentos de mobilidade social (veja MOBILIDADE SOCIAL), são reconhecidos por lei e possuem quase sempre um fundo religioso.
CATEGORIAS. Pluralidade de pessoas que são consideradas como uma unidade social pelo fato de serem efetivamente semelhantes em um ou mais aspectos (Fichter). Não há necessidade de proximidade ou contacto mútuo para que as pessoas pertençam a uma categoria social.
CIDADE. É um aglomerado permanente, relativamente grande e denso, de indivíduos socialmente heterogéneos (Wirth).
CIÊNCIA. É todo um conjunto de atitudes e de atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação (Trujillo).
CIVILIZAÇÂO. Grau de cultura bastante avançado no qual se desenvolvem bem as Artes e as Ciências, assim como a vida política (Winick). Características essenciais da civilização: as hierarquias sociais internas, a especialização, as cidades e as grandes populações, o crescimento das matemáticas e a escrita (Childo).
CLÃ. Grupo de parentes baseado numa regra de descendência, geralmente medida tanto pela linha masculina quanto pela linha feminina (parentesco através de um dos pais) e numa regra de residência (mesma localidade). Os membros do clã traçam a sua linha de ascendência a partir de um antepassado original, que pode existir somente no passado mitológico: um animal, um ser humano, um espírito ou uma característica da paisagem.
CLASSE SOCIAL. É um agrupamento legalmente aberto, mas na realidade semifechado; solidário; antagônico em relação a outras classes sociais; em parte organizado, mas principalmente semi-organizado; em parte consciente da sua unidade e existência, e em parte não; característico da sociedade ocidental a partir do Século XVIII; é multivinculado, unido por dois liames univinculados, o ocupacional e o econômico (ambos tomados no sentido mais lato) e por um vínculo de estratificação social no sentido da totalidade dos seus direitos e deveres basicamente diferentes das outras classes sociais (Sorokin).
CÓDIGOS. Representam modelos culturais que exercem determinado "constrangimento" sobre a ação de indivíduos e grupos; são normas de conduta, cujo poder de persuasão ou de dissuasão repousa, em parte, nas sanções (veja SANÇÕES), positivas ou negativas, de aprovação ou desaprovação, que as acompanham.
COMPETIÇÃO. Forma mais elementar e universal de interação, consistindo na luta incessante por coisas concretas, por status ou prestígio; é contínua, e geralmente inconsciente e impessoal.
COMPLEXOS CULTURAIS. Conjunto de traços ou um grupo de traços associados formando um todo integral (veja TRAÇOS CULTURAIS).
COMPORTAMENTO COLECTIVO. É um comportamento que caracteriza os componentes dos agregados, especificamente das multidões, e que não se constitui na simples soma dos comportamentos individuais, mas que se configura com um comportamento determinado ou influenciado pela presença física de muitas pessoas, com certo grau de interação entre elas (veja INTERACÇÃO). Apresenta, geralmente (quando a multidão se torna ativa) as seguintes fases: controle exercido pela presença de outrem (modificando os comportamentos individuais); "reação circular" (influência de cada indivíduo sobre o comportamento do outro e vice-versa); "milling" (movimento de indivíduos, uns em redor dos outros, ao acaso e sem meta); excitação coletiva (o comportamento excitado fixa poderosamente a atenção dos integrantes; sob a sua influência os indivíduos tornam-se emocionalmente excitáveis; a decisão pessoal dos indivíduos é mais rapidamente quebrada); contágio social (disseminação rápida, impensada e irracional de um estado de espírito, de um impulso ou de uma forma de conduta que atraem e se transmitem aos que originalmente se constituíam em meros espectadores e assistentes).
COMUNICAÇÃO. Processo pelo qual ideias e sentimentos se transmitem de indivíduo para indivíduo, tornando possível a interacção social (veja INTERACÇÃO). É fundamental para o homem, enquanto ser social, e para a cultura. Pode dar-se através de meios não vocais, sons inarticulados, palavras (linguagem falada ou escrita) e símbolos.
COMUNIDADE. É essencialmente ligada ao solo, em virtude dos seus componentes viverem de maneira permanente em determinada área, além da consciência de pertencerem, ao mesmo tempo, ao grupo e ao lugar, e de partilharem o que diz respeito aos principais assuntos das suas vidas. Têm consciência das necessidades dos indivíduos, tanto dentro como fora do seu grupo imediato e, por essa razão, apresentam tendência para cooperar estritamente.
COMUNISMO. Como o socialismo (veja SOCIALISMO), o comunismo é mais uma doutrina econômica do que política. Consiste numa filosofia social ou sistema de organização social baseada no principio da propriedade pública, coletiva, dos meios materiais de produção e de serviço econômico; encontra-se unido a doutrinas que se preocupam em formular os procedimentos mediante os quais pode ser estabelecido e conservado. Sob este aspecto, difere do socialismo, por preconizar a impossibilidade da reforma e de a sua instauração em medidas fragmentárias e de caráter lento. Outro ponto de discordância apresenta-se no que se refere ao rendimento: se ambos os sistemas consideram válidos os rendimentos advindos do trabalho (não aqueles, porém, que derivam da propriedade), o socialismo admite que o rendimento seja medido pela capacidade pessoal ou pelo rendimento social manifestado pela competência dentro do sistema coletivo, ao passo que o comunismo aspira suprimir até mesmo este último tipo de competência: o lema comunista é "de cada um segundo a sua capacidade e a cada um segundo as suas necessidades". Nenhum dos países simplificadamente denominados comunistas, atingiram este estágio; ficaram na fase de "ditadura do proletariado" ou "democracia popular". A perestroika, palavra russa que significa reestruturação e que designa a política iniciada por Gorbachov na ex-URSS, marcou o princípio do fim destes regimes.
CONDUTA. Consiste no comportamento humano autoconsciente, isto é, comportamento controlado pelas expectativas (veja EXPECTATIVA DE COMPORTAMENTO) de outras pessoas.
CONFLITO. Luta consciente e pessoal, entre indivíduos ou grupos, em que cada um dos contendores almeja uma condição, que exclui a desejada pelo adversário.
CONFORMIDADE. Seria a ação orientada para uma norma (ou normas) especial, compreendida dentro dos limites do comportamento por ela permitidos ou delimitados. Desta maneira, dois fatores são importantes no conceito de conformidade: os limites de comportamento permitidos e determinadas normas que, consciente ou inconscientemente, são parte da motivação da pessoa.
CONSCIÊNCIA DE CLASSE. Consiste no fato de dar-se conta ou perceber as diferenças que existem entre a própria situação de classe e a de outro indivíduo ou indivíduos. Essas atitudes podem consistir num sentimento de inferioridade ou de superioridade, respectivamente, se os outros pertencem a classes sociais (veja CLASSES SOCIAIS) superiores ou inferiores. Podem dar lugar a um sentimento de oposição ou de hostilidade, à medida que se percebem as diferenças de interesses, em sociedades que possuem a luta de classes, ou simplesmente um sentimento de afastamento ou reserva, devido à diferença de usos sociais, costumes e ideologias das diferentes classes.
CONSCIÊNCIA COLECTIVA. Soma de crenças e sentimentos comuns à média dos membros da comunidade, formando um sistema autônomo, isto é, uma realidade distinta que persiste no tempo e une as gerações (Durkheim).
CONSENSO SOCIAL. Conformidade de pensamentos, sentimentos e ações que caracterizam os componentes de determinado grupo ou sociedade (Willians).
CONTATO. É a fase inicial da interestimulação, sendo as modificações resultantes denominadas interação (veja INTERACÇÃO). É um aspecto primário e fundamental do processo social (veja PROCESSO SOCIAL) porque do contacto dependerão todos os outros processos ou relações sociais. Divide-se em: contactos diretos (aqueles que ocorrem por meio da percepção física, portanto, realizados face a face); contactos indiretos (realizados através de intermediários - com os quais se terá um contacto direto - ou meios técnicos de comunicação); contactos voluntários (derivados da vontade própria dos participantes, de maneira espontânea, sem coação); contactos involuntários (derivam da imposição de uma das partes sobre a outra); contactos primários (pessoais, íntimos e espontâneos, em que os indivíduos tendem a compartilhar das suas experiências particulares; envolvem elemento emocional, permitindo certa fusão de individualidades que dão a origem ao "nós"); contactos secundários (são contactos formais, impessoais, calculados e racionais, geralmente superficiais, envolvendo apenas uma faceta da personalidade); contactos do "nosso grupo" (fundamentados no fenômeno do etnocentrismo (veja ETNOCENTRISMO) com a sobrevalorização da cultura e dos costumes. Há uma tendência para a identificação com os elementos do grupo, mantendo relações baseadas em simpatia, sentimento de lealdade, amizade e até mesmo de altruísmo); contactos do "grupo alheio" (contacto com pessoas estranhas, cuja cultura e costumes são menosprezados. Considerados estranhos, forasteiros, adversários ou inimigos, os sentimentos que eles despertam são de indiferença ou inimizade); contactos categóricos (resultam da classificação que fazemos de uma pessoa desconhecida, baseada na sua aparência física, cor da pele, feições, profissão, etc., de acordo com as características atribuídas a ela pelo "nosso grupo"); contatos simpáticos (baseados em qualidades manifestadas pelos indivíduos e não em características de categorias) (vide CATEGORIAS).
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